Cronicas do que nao vivi - primeira:
Estive procurando, no sotao e no porao, alguma coisa que ainda prestasse e que pudesse doar para alguem.
Encontrei muita poeira e muita coisa velha. Velhas mesmo. Quebradas e sem utilidades. Dificil poder doar coisas assim. Mas sempre tem alguem que pode fazer bom uso, ate de coisas velhas.
Encontrei roupas apertadas. Camisas rasgadas. Blusas manchadas. Pratos e porcelanas lascadas. Pratas amassadas. Talheres. Fotos. Gente que eu nao reconheco e gente que nunca vi.
Pensei em limpar tudo, organizar aquela bagunca, mas pensei melhor e conclui que nao vale mais a pena.
Nao vale mais a pena se esmerar por algumas coisas velhas que talvez ninguem realmente queira.
Conclui que nao vale a pena limpar um porao que ja esta muito empoeirado e irremediavelmente destruido.
Conclui que nao vale a pena limpar um sotao que o melhor seria destruir e construir um novo.
Olhei desanimada para meu proprio reflexo no vidro de uma porta retrato.
Ele mostrava a figura de uma mulher madura, que embora amarelada (quem? A mulher ou a foto), mostrava certa postura.
Era a monalisa daquele porao (sim, eu estava no porao, porque o sotao estava todo molhado e mofado e resolvi abandona-lo para sempre).
Se monalisa, entao, era uma incognita.
Teria o mesmo sorriso? O mesmo misterio indesvendavel?
Como sempre, a postura levava as maos a frente do colo, como que dizendo: carrego nos bracos as dores e as alegrias do mundo!
Pensei: esta sou eu ou qualquer uma de nos, mulheres.
Este realmente eh um dia ideal para limpeza. Da vida e da alma.
E aquele retrato voo longe no tempo e me mostrou como os desenganos, desafetos, disabores e desencantos ficam marcados para sempre, ate mesmo nos porta-retratos.
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